terça-feira, 19 de abril de 2011

A cegueira se foi

Fecho meus olhos e não vejo nada
percebo que isto não me faz cego

ando pela vida, ainda menino, não sei sobreviver
isto não me faz um cego
em idade tenra não tenho mais os braços maternos
percebi que me tornei órfão
passei por penúrias, sem roupas e muito frio
fome e próximo da miséria
isto não me trouxe cegueira

adquiri calos, cansaços e dores
não me deram chances e não cuidaram de mim
gritaram e me expulsaram
me roubaram e caluniaram
isto não me fez um cego

roubei, menti e trai
prostitui, fumei e bebi
gastei, perdi e não aprendi
chorei e fingi que sorri
prostrei e me escondi
levantei e voltei a repeti
pequei, gostei e morri
isto me fez um cego

quando achei que via
foi só enganação
miragens de belezas inexistentes
peles, contornos e nudez
promessas e cantos
abraços sem braços
dores e prantos
não ando, sou somente cegueira
atravesso o vale escuro
pouso-me à margem da vida
não sou convidado

escuto uma voz
é como se pudesse ver
meu coração acelera
grito uma vez, grito novamente
me fiz escutar
quero sair desta noite

suspiro, converso com Ele
sou envolvido pela Luz
não sou mais oculto
Ele me fez enxergar
sou Bartimeu

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