sexta-feira, 5 de outubro de 2012

G. K. Chesterton: O poeta e o lógico


Comecemos, portanto, pelo hospício. Desta nefasta e fantástica pousada lancemos vôo para a nossa jornada intelectual. E, se temos de encarar a filosofia da sanidade, a primeira coisa a fazer é refutar um grande e comum erro. Anda espalhada a todos os ventos a noção de que a imaginação, principalmente a imaginação mística, é perigosa para o equilíbrio mental do homem. Fala-se, geralmente, dos poetas como de pessoas que, psicologicamente, não são dignas de confiança. Mas os fatos, assim como a história, desmentem veementemente tal ponto de vista. Os grandes poetas, na sua maioria, foram, não só pessoas sãs, mas também pessoas inteiramente práticas: e, se Shakespeare, segundo se conta, se entregou durante algum tempo ao mister de tomar conta de cavalos às portas dos teatros, é porque era pessoa suficiente capaz para fazê-lo. A imaginação não produz a loucura: o que produz a loucura é exatamente a razão. Os poetas não enlouquecem, os jogadores de xadrez, sim. Os matemáticos e os caixas enlouquecem, mas os artistas criadores raramente chegam a tal estado. Como se há de observar no decorrer deste livro, não é meu propósito atacar a lógica; quero apenas frisar que o perigo está na lógica e não na imaginação.

A poesia é sã porque flutua, facilmente, num mar infinito; a razão procura cruzar o mar infinito para, assim, torna-lo finito. O resultado é um esgotamento mental, como o esgotamento físico de Holbein. Aceitar todas as coisas é um exercício, entender todas as coisas é um esforço. O poeta procura apenas a exaltação e a expansão, isto é, procura um mundo no qual ele possa se expandir. O poeta pretende apenas meter a cabeça no Céu, enquanto que o lógico se esforça por meter o Céu na cabeça. E é a cabeça que acaba por estourar.

G. K. Chesterton, Ortodoxia

Fonte: Sumateologica

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